"...Passei a vida inteira sobre a prancheta, trabalhando como arquitecto mas eu não dou tanta importância à arquitectura, eu acho que o importante é a vida, é o contacto humano, é a gente procurar melhorar o mundo em que vivemos..." quem o disse foi Oscar Niemeyer que, aos 104 anos, deixa de nos brindar com o seu sorriso. A boa notícia é que toda a obra (inspiradora) que deixou, já ninguém nos tira.
O Oscar fez-me regressar aos maravilhosos anos de universidade. Lembrei-me das directas em vésperas de entrega de projecto e do nervoso misturado com a adrenalina, da seca que eram para mim as aulas teóricas, das aulas de desenho ao ar livre onde desenhávamos cubos de cartão inseridos na paisagem, das canetas rottring de tinta da china, do papel vegetal, das noites em que acordava de repente e corria para o meu moleskine porque tinha tido uma ideia brilhante, dos dias e dias passados a fazer maquetes cheias de curvas de nível e da quantidade de vezes que o x-acto me atraiçoou. Do barulho irritante do esferovite e do cheiro da cola UHU, das filas ridiculamente grandes para plottar (que palavrão) os painéis das apresentações finais, da introdução ao fantástico mundo do Autocad...e principalmente fez-me recordar o meu professor preferido, este mesmo que está nesta fotografia (feita no dia do lançamento do seu 1º livro) - Ricardo Bak Gordon, fez-me lembrar como é importante admirarmos quem nos quer ensinar.
Já tinha ouvido falar dele, confesso que, mal. Diziam que ele era arrogante, que destruía as maquetes aos alunos sem dó nem piedade e corria um boato que seria ao pontapé. Eu estava assustadíssima e achei que ia ser um ano para esquecer, até tentei mudar de turma. Felizmente não consegui!
Na verdade o que aconteceu foi exactamente o oposto, o Ricardo conseguiu despertar em mim uma paixão pela arquitectura que eu até ali desconhecia, fez com que perdesse (ou ganhasse) tardes sentada nos sofás da fnac a devorar livros cheios de edifícios branquinhos e de linhas rectas, ensinou-me a construir a minha própria identidade arquitectónica, ensinou-me a acreditar em mim e nos meus projectos, ensinou-me a fazer maquetes dignas de museu, ensinou-me também a destruí-las e não sei como, nunca o vi usar os pés (se calhar o boato era mesmo mentira). Questionava-me, olhava para o meu projecto e enquanto segurava num cigarro, olhava-me com aquela cara que ele fazia quando se queria rir mas ao mesmo tempo fazia força para não rir e dizia-me "caga nessa merda Babá, faz isso tudo outra vez" e o facto é que eu fazia e refazia vezes sem conta e gostava! O resultado final, esse era sempre melhor e vinha colado com um sorriso. O meu ano tornou-se inesquecível.
Bak Gordon foi sem dúvida, uma peça fundamental no meu percurso e eu sei que ele sabe disso.
No limite (expressão que ele não se cansava de repetir) resta-me dizer: Obrigada!
Nota: Continuam a poder encontrá-lo aqui. Aproveitem-no!
Bak Gordon foi sem dúvida, uma peça fundamental no meu percurso e eu sei que ele sabe disso.
No limite (expressão que ele não se cansava de repetir) resta-me dizer: Obrigada!
Nota: Continuam a poder encontrá-lo aqui. Aproveitem-no!