quarta-feira, 6 de novembro de 2013

You give me something






































Passeava nas ruas de Notting Hill, estava frio, próprio de Dezembro, quase a anoitecer, tentava absorver tudo à minha volta, as cores suaves de todas as casinhas, as luzes de natal, o cheirinho da lenha queimada, a pronúncia tipicamente inglesa e senti-me feliz porque estava a adorar o passeio. 
De repente algo me chamou a atenção. Uma voz rouca e sorridente que se assemelhava à do Louis Armstrong e um som mágico que saía de um instrumento desconhecido fez com que não fosse capaz de continuar a andar.
Carinhosamente olhou-me e perguntou se queria que cantasse alguma música e eu revelando alguma timidez respondi "Something you want". Começou a cantar sem nunca parar de sorrir e o som mágico voltou. Naquele instante senti que o tempo parou, de repente esqueci-me onde estava, só existia eu, a música, aquela voz e aquele sorriso, as cores e as luzes. Um arrepio percorreu a minha pele aquecida pelo sobretudo, e sem me aperceber os meus olhos brilhavam, cheios de lágrimas. 
Apesar de não reconhecer a música, ouvia-se no refrão "you give me something"...
Há momentos que de banais, passam a especiais e não conseguimos explicar mas a verdade é que nunca os esquecemos.
De volta à realidade, dei uma merecida moeda ao senhor, com as mãos frias, limpei envergonhadamente as lágrimas, fiz esta fotografia, sorri em jeito de despedida e segui o meu caminho. Dei por mim a trautear o refrão e a pensar: Deste-me sem dúvida alguma coisa!


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sem Problema
































Gosto de pessoas simples, de pessoas que não se queixam da vida, de pessoas positivas e bem dispostas, de pessoas que conduzem jangadas de bamboo e mesmo cansadas continuam a sorrir carinhosamente aos casais apaixonados que ao longo do dia vão dando beijinhos enquanto flutuam no Martha Brae River.
Gosto de pessoas que rapidamente respondem "no problem", de pessoas descomplicadas, de pessoas que transmitem boa energia, de pessoas que me fazem ter vontade de ouvir Bob Marley e de trautear vezes sem conta "Don't worry about a thing, 'Cause every little thing gonna be alright". 
Ele era assim e foi por isso que naquele final de tarde fiz questão que se sentasse e desfrutasse. Dizia-lhe "don't worry" intercalado com "no problem" e lá o convenci a deixar-me conduzir pela primeira vez uma jangada!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

No limite




















"...Passei a vida inteira sobre a prancheta, trabalhando como arquitecto mas eu não dou tanta importância à arquitectura, eu acho que o importante é a vida, é o contacto humano, é a gente procurar melhorar o mundo em que vivemos..." quem o disse foi Oscar Niemeyer que, aos 104 anos, deixa de nos brindar com o seu sorriso. A boa notícia é que toda a obra (inspiradora) que deixou, já ninguém nos tira. 

O Oscar fez-me regressar aos maravilhosos anos de universidade. Lembrei-me das directas em vésperas de entrega de projecto e do nervoso misturado com a adrenalina, da seca que eram para mim as aulas teóricas, das aulas de desenho ao ar livre onde desenhávamos cubos de cartão inseridos na paisagem, das canetas rottring de tinta da china, do papel vegetal, das noites em que acordava de repente e corria para o meu moleskine porque tinha tido uma ideia brilhante, dos dias e dias passados a fazer maquetes cheias de curvas de nível e da quantidade de vezes que o x-acto me atraiçoou. Do barulho irritante do esferovite e do cheiro da cola UHU, das filas ridiculamente grandes para plottar (que palavrão) os painéis das apresentações finais, da introdução ao fantástico mundo do Autocad...e principalmente fez-me recordar o meu professor preferido, este mesmo que está nesta fotografia (feita no dia do lançamento do seu 1º livro) - Ricardo Bak Gordon, fez-me lembrar como é importante admirarmos quem nos quer ensinar.
Já tinha ouvido falar dele, confesso que, mal. Diziam que ele era arrogante, que destruía as maquetes aos alunos sem dó nem piedade e corria um boato que seria ao pontapé. Eu estava assustadíssima e achei que ia ser um ano para esquecer, até tentei mudar de turma. Felizmente não consegui! 
Na verdade o que aconteceu foi exactamente o oposto, o Ricardo conseguiu despertar em mim uma paixão pela arquitectura que eu até ali desconhecia, fez com que perdesse (ou ganhasse) tardes sentada nos sofás da fnac a devorar livros cheios de edifícios branquinhos e de linhas rectas, ensinou-me a construir a minha própria identidade arquitectónica, ensinou-me a acreditar em mim e nos meus projectos, ensinou-me a fazer maquetes dignas de museu, ensinou-me também a destruí-las e não sei como, nunca o vi usar os pés (se calhar o boato era mesmo mentira). Questionava-me, olhava para o meu projecto e enquanto segurava num cigarro, olhava-me com aquela cara que ele fazia quando se queria rir mas ao mesmo tempo fazia força para não rir e dizia-me "caga nessa merda Babá, faz isso tudo outra vez" e o facto é que eu fazia e refazia vezes sem conta e gostava! O resultado final, esse era sempre melhor e vinha colado com um sorriso. O meu ano tornou-se inesquecível.
Bak Gordon foi sem dúvida, uma peça fundamental no meu percurso e eu sei que ele sabe disso. 
No limite (expressão que ele não se cansava de repetir) resta-me dizer: Obrigada!

Nota: Continuam a poder encontrá-lo aqui. Aproveitem-no!
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Como o macaco gosta de banana, eu gosto de ti


































Tinha uns 6 anos quando conheci o primeiro macaquinho (que até hoje acabou por ser o único) da minha vida. Era pequenino, talvez fosse anão, tinha vários tons de beje, uma cauda enorme e vivia numa casa com varanda por cima de um mini-mercado, onde surripiava umas bananas e uns amendoins. Todos os dias no caminho para a escola, via-o aos saltinhos no parapeito e pensava "um dia quando crescer vou ter um igual a este". Devo confessar que essa vontade ganhou muita força depois de ver o filme A Princesinha. Cheguei até a comentar este meu desejo com a minha mãe, mas ela deve ter levado tão pouco a sério que hoje em dia nem se lembra desta história. 
Acabei por crescer e chegar à conclusão que um pequeno primata a cirandar pela casa não seria muito sensato e fiquei-me pelo Bartolomeu, um ratinho beje angorá, muito parecido com este.  
Quando há um par de anos visitei o jardim zoológico deparei-me com esta imagem deliciosa que me fez voltar atrás no tempo e recordar o meu macaquinho do mini-mercado.
Dizem que os animais não sorriem, eu cá não acredito! Vê-se perfeitamente que esta mãe sorri, orgulhosa do seu bebé.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Amor embrulhado em algodão


Quem me conhece, sabe que a minha vida sem crianças não fazia sentido.
Quem me conhece, sabe que sempre tive um jeito especial. Muita paciência, muita brincadeira, muitos sorrisos e principalmente, muita cumplicidade. Acontece quase sempre uma espécie de empatia mútua, que não dá para perceber. Lembro-me que a primeira vez que agarrei num bebé ao colo, sem me aperceber, fi-lo com uma confiança inata. Como se fizesse parte de mim.
Acho que esta ligação foi alimentando inconscientemente o meu desejo de ser mãe e faz-me acreditar que nasci para isso (sim é verdade, gosto de pensar que vou ser a melhor mãe do mundo), mas falar sobre estas duas miúdas, não é fácil. Tenho-lhes um amor difícil de explicar, não são da minha família, não estou com elas todos os dias, nem todas as semanas e muitas vezes, nem todos os meses, mas sempre que penso nelas o meu coração derrete-se. Eu sei que sou suspeita, mas é que elas são mesmo especiais!
Estou a imaginar a carinha delas a rir enquanto escrevo e já estou a sorrir também. A vozinha doce da Luísa com o seu jeito de "princesa apaixonada", muito delicada, muito intuitiva, muito emocional, repara em cada pormenor, tão menina (devo confessar que tenho uma ligação muito forte com ela, talvez por achar que somos muito parecidas e porque parece que ela me sabe "ler" como se fosse crescida)... E por outro lado, o jeito "levo tudo à frente e ainda me vou rir a seguir" da Rosa, mas que ao mesmo tempo dá beijinhos e faz festinhas, ainda com voz de bebé que não pronuncia bem as palavras, que quando se ri fecha os olhinhos, que vai ser uma maria rapaz e vai dar chapadas aos meninos que a chatearem (imagino-a a proteger a irmã mais velha). 
Quando vou lá a casa o momento em que chego é sempre diferente, acho mesmo que durante alguns minutos volto a ser criança, tal é o meu entusiasmo. O certo é que me esperam sempre com a mesma alegria e com o mesmo sorriso (e elas não têm noção o quanto me fazem sentir querida)Há dias em que se escondem e consigo ouvir os seus risos excitados atrás do sofá ou dos cortinados, e eu pergunto à mãe "Tu não me digas que elas se foram embora? Eu vim para jantar com elas!" e elas saltam de repente a rir, todas contentes porque (pensam que) me enganaram. Outras vezes vêm a correr para as minhas pernas aos pulinhos, abraçam-me e é sempre tão bom!
Por estar com elas deixo-lhes o melhor de mim e trago guardado (cuidadosamente embrulhado em algodão) o amor incondicional que elas me dão.
Ficava aqui indefinidamente a escrever sobre a Luisinha e sobre a Rosinha mas de tudo o que podia dizer, aquilo que as torna mesmo especiais é sentir que são felizes, mesmo quando não querem comer os legumes, mesmo quando não querem ir para a cama, mesmo quando caem e arranham os joelhos, ou quando implicam uma com a outra, eu tenho a certeza que elas são mesmo felizes!

sábado, 17 de novembro de 2012

(podia muito bem ser) O galã da novela da noite






























Este dia não estava nos nossos planos. Tínhamos passado uns dias em Búzios e ouvimos alguém dizer que Cabo Frio era maravilhoso, como ficava a caminho do Rio decidimos espreitar. Aquela praia parecia um recorte de uma revista de viagens. Nunca me hei-de esquecer do toque da areia nos meus pés, era farinha, só podia ser farinha, tão fina, tão macia e tão branquinha. O mar parecia desenhado em aguarelas, com vários tons de azul e verde, a temperatura era perfeita assim como a brisa quente. Mal pus os pés na praia reparei nele. Era um homem charmoso, tinha imensa pinta, parecia um actor de telenovelas brasileiras. Toda a gente o conhecia, toda a gente lhe sorria e ele sorria para toda a gente, creio que os olhos verdes, a  pele morena, a sunga azulão e a prancha  de surf amarela, ajudavam.
Desde miúda sempre tive aquela ideia (vá...um bocadinho utópica) de largar tudo e montar um negócio na praia. O Jorge fez isso! Quando me contou que largou o trabalho de escritório pela barraquinha na praia fiquei fascinada e gabei-lhe a coragem. Alugava cadeiras e vendia água de coco geladinha, por sinal a melhor que bebi no Brasil.
Acabámos as duas por ficar horas a conversar com ele, mostrou-nos o forte e explicou-nos um pouco da sua história, queria que nos sentíssemos em casa e a verdade é que conseguiu. Conhecemos metade da praia, o senhor que vendia massarocas de milho cozidas, o Tiago (amoroso, que vendia búzios e conchas), a avó com a neta, a amiga da amiga, o casal de turistas inglês, o vizinho, o fotógrafo da revista de surf e rapidamente nos tornámos As amigas portuguesas. A sensação de se ser bem recebida, é tão boa, não é?
Nunca mais soube nada do Jorge mas gosto de imaginar que continua feliz! Gosto de imaginar que continua a distribuir sorrisos a todos os que por ali passam e que continua a viver a vida com a mesma simplicidade que naquele dia lhe conheci. 

domingo, 11 de novembro de 2012

Pura vida








































Eu não me calava "Temos que ir! Vocês não estão a perceber, a água é purificada... Acreditem em mim, não se vão arrepender." e elas olhavam-me com um ar de seca, porque La Tinaja ficava no outro lado da cidade e iam fazer não sei quantos quilómetros só para beber água. Tanto insisti que consegui vencê-las pelo cansaço (e ainda bem)!
Assim que entrámos, um senhor de óculos com um ar tosco mas muito efusivo, brindou-nos com um sorriso. Gostei logo dele! No meio do meu entusiasmo lá lhe pedi 3 copos de água purificada, pegou numa caneca, mergulhou-a num recipiente com água e encheu-nos os copos.  Os meus olhos brilhavam por ter conseguido chegar aquele sítio, parecia uma criança que tinha descoberto o pote mágico do arco-íris. Peguei no copo com firmeza, olhei para elas e rimo-nos muito excitadas como se estivéssemos prestes a beber o elixir da juventude e fôssemos ficar 10 anos mais novas. A água sabia...bem, na verdade sabia ao que qualquer outra água sabe mas pelo menos era fresquinha.
O Pedro Pablo apresentou-se e quando descobriu que éramos portuguesas desatou a debitar todas as asneiras que conhecia na nossa língua e ria-se o tempo todo, contou-nos histórias de um amigo português e no meio de cada frase lá juntava um palavrão, orgulhoso dele próprio. Estava deliciada com aquele senhor e com a sua simpatia.
A curiosidade em provar água purificada (que certamente de purificada não tinha nada, porque muito provavelmente saiu de uma qualquer torneira cubana) transformou-se num dos momentos mais especiais que vivi em Havana e não foi pelas suas qualidades terapêuticas , foi culpa dele, do Pedro, dos palavrões e da forma (pura) com que sorria ao contar-nos as suas histórias. 
Olhando para a parede cheia de fotografias lembro-me que lhe prometi enviar a nossa e nunca cheguei a fazê-lo. Vou tratar disso esta semana. O Pedro Pablo merece!